Eleitora do PT, classe C está dividida entre Dilma e Aécio
Para os especialistas ouvidos por EXAME.com, uma parcela importante dessa população foi diretamente beneficiada por programas dos governos do PT, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni e Pronatec. No entanto, após doze anos, parte desse eleitorado não faz mais uma associação direta entre esses benefícios e o partido que está no poder.
“Essa população percebeu um ganho. Mas chega uma hora que esse ganho deixa de ser atribuído a um sujeito especifico e passa a ser visto como uma política de Estado”, explica o economista e cientista político Ricardo Sennes, diretor da consultoria Prospectiva.
Para a antropóloga Luciana Aguiar, sócia-diretora da Plano CDE (empresa de pesquisa especializada nesse setor), esse comportamento eleitoral mostra uma mudança na postura política dessa população.
“Essas pessoas estão mais independentes em sua relação com o Estado. Elas começam a ter uma ideia de que o que foi feito de bom é uma obrigação do Estado. É outra relação”, afirma.
O comportamento da classe média vem mudando gradativamente ao longo das últimas eleições. Em 2006, quando Lula (PT) e Alckmin (PSDB) disputavam a presidência, o candidato petista tinha 56% das intenções de voto nesse setor. Em 2010, na disputa entre Dilma e Serra, a fatia que declarava voto no PT caiu para 49% (Os dados são das pesquisas Datafolha realizadas na véspera da votação).
Agora, a disputa por este público está ainda mais acirrada. No início do segundo turno, o candidato tucano Aécio Neves chegou a aparecer à frente de Dilma Rousseff nessa faixa de renda, com 56% das intenções voto, contra 44% da petista.
“Dentro deste público, há uma participação importante dos jovens, que são mais escolarizados do que seus pais e têm um olhar mais inquieto para o futuro”, afirma Luciana.
Ela conta sobre um depoimento que ouviu recentemente: “Ouvi uma jovem que havia sido diretamente beneficiada por programas na área de educação. Mas ela dizia: ‘Isso já existe há muito tempo, não é necessariamente inciativa do governo que está aí. Não é isso que vai definir o meu voto’”, lembra a pesquisadora.
Além da consolidação dessas políticas sociais, outra explicação para este movimento está na situação econômica, afirma Sennes.
“Quando a economia começa a andar de lado e a inflação mostra um começo de crescimento, esse sujeito sente uma corrosão no seu poder de compra. Isso pode se voltar contra a intenção de voto em Dilma”, afirma.
Aguiar ressalta que, por mais que tenha ascendido socialmente, essa parcela da população tem um orçamento apertado, que é facilmente afetado pela inflação.
Um último ponto que pode afetar a decisão deste eleitorado é o desgaste da imagem do PT após doze anos de governo, argumenta Sennes.
“Há um desgaste da imagem do PT como um partido governante sério, com um comportamento novo na política, que tem a ver com a questão da corrupção”, afirma.
Divisão
A divisão deste público nessas eleições aponta para a necessidade de se olhar para a classe média como heterogênea, afirma Luciana.
“A gente tende a olhar para a classe média como se ela fosse um bloco único. Mas estamos falando de 97 milhões de pessoas – 63 milhões se considerarmos apenas a classe C”, lembra a antropóloga.
Dentro deste espectro, Luciana afirma que existem aqueles que estão seguros em sua posição de classe média, mas também há os que acabaram de sair de uma situação econômica mais desfavorável.
“Essas parcela, que acabou de sair da classe D, tende a não querer mudanças no governo. Para eles, qualquer oscilação pode significar a perda do que foi conquistado até aqui”, diz.
Com todas essas particularidades, fica difícil saber qual dos dois candidatos será o favorito deste eleitorado nessas eleições. Mas uma coisa é certa: independentemente do favorito, a classe média será, mais uma vez, decisiva na definição dessas eleições.
Fontes: Msn