Mãe grava na pele amor pelos três filhos mortos após partos em MS (Foto: Patrícia Horvart/ Arquivo Pessoal) |
Os três balões que carregam os nomes de Aurora, Bento e Valentina foram
gravados na pele de Priscila Horvath para representar o amor que
sobrevive na ausência.
A engenheira agrônoma tem 34 anos e mora em Mato Grosso do Sul. Ela deu
à luz três filhos, mas teve que enterrá-los dias depois dos partos, em
2013, 2015 e 2016, respectivamente.
Os recém-nascidos morreram por motivos diferentes. Da primeira vez, uma
forte infecção, na segunda, complicações da Lúpus associada à mesma
infecção e, na terceira, paradas cardíacas ainda na sala de parto
tiraram a vida do terceiro filho de Priscila.
"Senti a necessidade de fazer uma homenagem ou estampar no meu corpo e
mostrar o amor que tenho dentro de mim por eles. A presença na ausência
deles, porque eles são presença constante na minha vida, em tudo que eu
faço. O que eu sou hoje, sou em função deles", ressaltou Priscila.
A primeira filha foi Valentina, que ficou um dia internada na UTI e
morreu no dia seguinte. Bento, o segundo filho, também teve só um dia de
vida. Aurora, fruto da terceira gestação, desta vez sem tratamento para
engravidar e quando o casal já não esperava mais conseguir, morreu
ainda na sala de parto, em setembro de 2016.
Aprendizado
Em tom de desabafo, Priscila contou ao G1 que o sofrimento em cada uma das perdas fez ela se sentir uma mãe especial, mesmo sem os filhos nos braços.
"Demorei muito tempo para entender que sou mãe. Me sentia uma árvore
oca que não é capaz de dar fruto. Hoje, sinto que sou uma mãe especial,
que fui capaz de gerar três filhos e sentir amor por eles cada dia mais,
mesmo sem eles estarem na minha vida. É tanto amor que chega a doer no
peito", contou.
Priscila gravou na pele os nomes e balões em homenagem aos filhos mortos (Foto: Priscila Horvart/ Arquivo Pessoal) |
A vontade de ser mãe surgiu logo depois de se casar, há seis anos. Ela e
o marido sonhavam em ter três filhos e adotar o quarto. Durante as
tentativas de engravidar, Priscila descobriu que precisava fazer
tratamento médico e assim foi, nas duas primeiras gestações.
A terceira foi espontânea, quando o casal já não planejava mais ter
filhos. "A gente tinha desistido, depois de perder a Valentina e o
Bento, porque tem que saber o limite. Corri risco de morrer também. Foi
quando veio a Aurora", contou.
Perder três filhos em quatro anos não acabou com o sonho do casal.
Agora, eles pensam na adoção. "A gente pensa muito sério nisso, já era
vontade nossa antes. A ideia era ter três filhos nossos e adotar o
quarto. Nós já tivemos três e temos plano pra adotar o quarto agora",
ressaltou.
A escolha dos balões azuis para desenhar na pele faz referência ao
significado do bebê natimorto ou morto logo após o parto. "Quando a
gente solta o balão azul, rosa ou branco significa libertação. É como se
você permitisse que aquele ser, mesmo sendo seu, seja libertado de
você", explicou.
O sofrimento de gerar, registrar e enterrar três filhos recém-nacidos
tornou Priscila mais forte. Ela conta que passou a ver a vida com outros
olhos e fez descobertas importantes.
"Descobri três coisas: a importância da família, da presença do
companheiro e do entendimento das pessoas. As pessoas não entendem que a
mãe que perde um filho recém-nascido é mãe também. Ela sofre, sai leite
do peito, ela tem todas as fases da mãe que ganhou o bebê, mas está sem
o bebê nos braços. Muita gente não tem delicadeza para tratar com essa
situação e tudo isso me fez ver as coisas de uma forma diferente. Meus
valores hoje são diferentes. Hoje percebo que tenho direito de escolher
por que ou quem eu vou sofrer", finalizou.
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