A investigação sobre a morte do dono de uma imobiliária, de 53 anos, em Campo Grande, revelou não só a confissão da principal suspeita do crime. Em seu depoimento na delegacia, acompanhada de dois advogados, a secretária de 38 anos falou do medo que sentia do companheiro, afirmando que foi estuprada algumas vezes e também obrigada a tomar remédio abortivo, pelo fato dele não querer ter filhos.
Durante as duas horas, conforme consta no inquérito policial, a mulher relatou que conviveu com a vítima por cerca de 15 anos. Da relação, eles possuem uma criança atualmente com 10 anos de idade. A mulher ressaltou que, neste período, foi ameaçada e agredida, considerando o companheiro como "uma pessoa bastante violenta".
No caso das ocorrências anteriores, a mulher relatou que nunca deu encaminhamento porque temia represálias do dono da imobiliária que, conforme o relato da suspeita, dizia "ter amigos na polícia e judiciário, além de amigos mafiosos". Quando o homem ingeria bebida alcoólica, a secretária ressaltou que era obrigada a fazer coisas que não gostava na relação sexual e, se não aceitava, teria sido agredida por ele.
No relato para o delegado Eder Moraes, em Aquidauana, distante a 131 km de Campo Grande, a mulher disse que fez todo o pré-natal do filho e este estava com o desenvolvimento normal. No entanto, ainda de acordo com o depoimento, o corretor teria dito a ela para abortar e chegou a levá-la em uma clínica que ficava na região central da cidade.
Houve insistência da vítima e até do médico, porém a mulher se negou a fazer o aborto. Conforme a secretária, o homem então teria comprado um remédio abortivo e misturado na bebida dela. Ao perceber o gosto diferente, a secretária conta que cuspiu a bebida. Ela complementa o relato dizendo ainda que, mesmo grávida, era forçada a manter relação, sendo que o homem "jogava o peso do corpo" e por isso ela sentiu contrações, dores e o parto foi antecipado.
Na segunda lauda do depoimento, a suspeita conta que a criança nasceu especial por conta da falta de oxigênio. O fato teria surpreendido o médico que a acompanhava, já que os "exames apontavam uma gravidez normal". Além de tudo, a mulher comentou que apesar de ter condições, a vítima não queria arcar com os custos do tratamento do filho e a impedia de manter contato com os seus familiares.
Noite dos fatos
Ao descobrir que ela buscou atendimento em uma clínica, a mulher alega novamente ter sido agredida. A briga começou durante a noite e terminou na madrugada da última sexta-feira (1°). A mulher disse que ele a obrigou a manter relação sexual e, ao se negar, ele teria pego um objeto decorativo chamado tacacá para agredi-la. Quando o homem deixou o objeto no chão para abrir a calça, a suspeita aproveitou o momento e pegou o objeto, desferindo um golpe na cabeça.
Chorando muito, ela disse que viu quando respingou sangue na parede e, em seguida, foi ao banheiro lavar as mãos. A mulher então colocou uma fronha ali e saiu do quarto, com a intenção do filho não perceber o que havia acontecido. Na sequência, a mulher ressalta que foi até a imobiliária e pegou as chaves do carro, além de documentos que comprovariam a exclusão dela dos bens do casal.
Questionada pela autoridade policial, a mulher garantiu que não teve a ajuda de ninguém, sendo que não deletou as imagens das câmeras da casa e da imobiliária, sendo que apenas apagou a luz. A mulher ressaltou que não havia discutido por conta de dinheiro e que a vítima possuía um cofre com uma grande quantia em dinheiro.
O teor da declaração está no inquérito do homicídio investigado pela 6ª Delegacia de Polícia. A suspeita foi indiciada e responde em liberdade.
Violência doméstica
Ao iniciar as investigações, a polícia constatou que a mulher denunciava o suspeito desde 2011. O último registro teria ocorrido em fevereiro deste ano, antes dela comparecer à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) novamente.
Entenda o caso
De acordo com a polícia, o empresário teria sido assassinado por volta das 3h (de MS), na última sexta (1°). O dono de uma imobiliária foi encontrado em casa, na vila Bandeirantes. O corpo apresentava marcas de porrete. Uma filha da vítima foi a primeira a chegar ao local após perceber que o pai não tinha ido trabalhar.
“O advogado dela esteve na delegacia e disse que eles tiveram uma briga, mas não confirmou que ela cometeu o crime. Ele registrou um boletim de ocorrência para falar da briga, mas não falou de morte”, disse na ocasião o delegado.
Familiares da vítima contaram ao G1 que o casal estava discutindo frequentemente, nos últimos tempos, por causa de dinheiro. Eles estariam juntos há 10 anos. A polícia apreendeu um porrete encontrado em cima da cama onde estava o corpo. O objeto é tratado pelos investigadores como o instrumento usado para agredir no dono da imobiliária. A perícia esteve no local e vasculhou a casa em busca de informações sobre o que teria acontecido.
“Tudo indica que ele tenha sido morto no local. Tem objetos quebrados, danificados, vidros. Estamos analisando se houve luta corporal”, disse Moura Fé. Os peritos também estiveram na imobiliária da vítima. Segundo informações repassada por familiares, o local teria sido arrombado e a mulher levado dinheiro e documentos. O caso também está sendo investigado.
Fonte: G1
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