Alunos chegam à Emeb Professor e Escritor Nelson dos Santos Damasceno em Franca, SP — Foto: José Augusto Júnior/EPTV |
Mães de alunos se reuniram com o secretário da Educação de Franca (SP) para pedir explicações sobre a denúncia de que as crianças ficaram sem recreio e tiveram as mochilas revistadas, após uma professora suspeitar que os estudantes haviam furtado o celular dela.
Segundo a dona de casa Daiane Cristina dos Santos, o aparelho foi encontrado depois, na casa da educadora. O caso de constrangimento está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e pela Secretaria da Educação. A professora foi afastada das funções.
“Muito revoltante, muito humilhante, porque são crianças de 7 a 9 anos, não mereciam passar por isso. Ela não teve a coragem de, ao menos, pedir desculpas. Não tiraria o nosso sentimento, mas ela não teve a decência de pedir desculpas”, desabafou.
O secretário da Educação, Edgar dos Reis Filho, disse que todos os envolvidos, inclusive a diretora do colégio, que teria ficado no pátio com os alunos, enquanto as bolsas eram revistadas na sala de aula, são alvos de uma sindicância na Controladoria do Município.
“Além do início do processo administrativo, optamos por afastar a professora da sala de aula. Entendemos que a escola é um ambiente de paz, de humanização. Condutas que, de alguma forma, tragam algum prejuízo emocional para as crianças são condenadas”, disse.
A delegada Christina Bueno de Oliveira, que chefia a investigação do caso, informou que ainda é necessária a identificação da professora para que ela possa prestar depoimento. Uma cópia do registro policial foi encaminhada à Secretaria da Educação.
Revolta
A revolta de Daiane é compartilhada por outras mães de alunos da Escola Municipal de Ensino Básico Professor e Escritor Nelson dos Santos Damasceno. Segundo a sapateira Eliane Jacinto, o filho de 8 anos disse que a classe foi ameaçada a não contar sobre a revista aos pais.
“Uma história absurda. Ele não quer mais ir à escola depois do acontecido, ficou com medo. Na inocência dele, achou que era normal ela falar que tinha um rastreador, que ia à polícia com quem havia pegado o celular. Depois, nós fomos saber a gravidade”, afirmou.
Os relatos das denunciantes são semelhantes: os filhos dizem que estavam na aula de música, quando foram abordados por outra professora, afirmando que haviam furtado o celular dela. A turma ficou sob a vigília da diretora no pátio, enquanto a educadora revistava as mochilas.
“Além de fazerem as coisas erradas, colocar eles sentados no pátio e revistar as mochilas, a gente ficou sabendo depois que ficaram sem recreio. Deixar as crianças na situação em que ficaram foi o pior. Nem eu faria isso com meu filho”, disse a serralheira Marilda Sampaio.
Onze mães registraram boletim de ocorrência sobre o caso, alegando que depois da revista a professora descobriu que havia deixado o celular em casa. A educadora ainda teria afirmado às crianças que estava com problemas pessoais causados pelos próprios alunos.
“Eu fiquei indignada, não me conformo, porque sei da educação que a minha filha tem. Ainda coagiram as crianças, dizendo que não era para contar aos pais, porque ia sobrar para eles. Eu fiquei com mais raiva ainda”, afirmou a dona de casa Camila Ferreira.
Impacto psicológico
Especialista em psicologia da educação e subjetividade, o psicólogo Matheus Silveira explicou que, na relação de ensino e aprendizagem, os professores formam um vínculo de afeto e confiança com os alunos. Quando ele é quebrado, pode haver danos às crianças.
“Os pais, ou algum profissional da escola, que também seja uma figura de afeto com essas crianças, deve trabalhar com elas através do diálogo, conversar sobre o que aconteceu, explicar por que essa professora errou quando cometeu esse ato”, afirmou.
Silveira disse que o episódio pode ser entendido pelas crianças de forma violenta. Por isso, os pais ou responsáveis devem estar próximos, acompanhando e dando respaldo emocional para resgatar o vínculo do aluno com a escola e o aprendizado.
“Escutar essa criança e, dialogando com ela, acolher a forma como ela entende o que aconteceu. Depois disso, começar a colocar pontos de empatia, ajudar essa criança a entender por que a professora se posicionou dessa forma e que está tudo bem ela se sentir assim a respeito do que aconteceu”, concluiu.
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