Nove mortos em dois tiroteios na Alemanha com possível motivação xenófoba

Serviço de emergência na área do tiroteio em Hanau, Alemanha, em 20 de fevereiro de 2020

Nove pessoas morreram na quarta-feira à noite (19) em dois tiroteios em bares de narguilé na cidade alemã de Hanau, crimes com provável motivação "xenófoba". O suposto autor dos ataques foi encontrado morto em sua residência nesta quinta (20).

A chanceler Angela Merkel condenou o "veneno" do racismo na Alemanha.

"O racismo é um veneno, o ódio é um veneno e este veneno existe em nossa sociedade e é o culpado por muitos crimes", declarou Merkel.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que está "ao lado de todas as pessoas ameaçadas pelo ódio racista". Ele expressou horror ante a "violência terrorista em Hanau".

A Promotoria antiterrorista anunciou que assumiu a investigação e dispõe de "elementos que apontam uma motivação xenófoba".

Fontes próximas à investigação revelaram que uma carta de confissão e um vídeo foram encontrados.

Identificado como "Tobias R." por vários meios de comunicação da Alemanha, o suspeito tinha 43 anos e foi encontrado ao lado do corpo da mãe, de acordo com o canal de televisão ARD.

O jornalista alemão Peter Neumann, especialista em terrorismo do King's College de Londres, afirmou que o texto encontrado é um "manifesto de 24 páginas" que expressa um "ódio aos estrangeiros e aos não brancos".

"Faz um apelo ao extermínio de vários países do norte da África, Oriente Médio e Ásia central, usando termos explicitamente eugenistas, afirmando que a ciência demonstra que algumas raças são superiores", explicou Neumann no Twitter.

O suposto autor alegava ter sido "vigiado toda sua vida pelos serviços secretos" e se descreve com um "celibatário involuntário", enquanto "confessa nunca ter mantido uma relação com uma mulher", continua Neumann.

A polícia anunciou na madrugada desta quinta que encontrou morto o "provável autor" do crime, ao lado de outro corpo não identificado, sem divulgar mais detalhes.

A polícia confirmou as mortes de oito pessoas na quarta-feira e de uma nona vítima que não resistiu aos ferimentos nesta quinta-feira. A imprensa local cita vários feridos em estado grave.

- Duas cenas de crime -

Os investigadores também encontraram o automóvel do suspeito, que estava com munições e carregadores. De acordo com a imprensa, ele tinha licença de caça e é alemão.

O primeiro tiroteio aconteceu em um bar de narguilé, o Midnight, no centro de Hanau, cidade de 100.000 habitantes que fica a 20 km de Frankfurt. Neste local, ele matou três pessoas.

Em seguida, o criminoso seguiu em seu automóvel até um segundo estabelecimento, o Arena Bar, no bairro de Kesselstadt, na periferia da cidade, onde abriu fogo contra pessoas que estavam na área de fumantes. Os tiros mataram cinco pessoas, incluindo uma mulher. Segundo o jornal Bild, todas as vítimas eram de origem curda.

"As vítimas são pessoas que conhecemos há muitos anos", afirmou o filho do gerente do bar. Dois funcionários estão entre as vítimas.

"É um choque para todos", disse.

Os líderes das principais instituições da União Europeia (UE) lamentaram nesta quinta-feira os ataques.

"Estou profundamente abalada com a tragédia", tuitou a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.

"Estamos unidos contra qualquer forma de ódio e violência", disse o presidente da Eurocâmara, David Sassoli.

O prefeito social-democrata de Hanau, Claus Kaminsky, relatou uma "noite terrível".

"É um autêntico cenário de horror", lamentou a deputada conservadora Katja Leikert.

- Terrorismo de extrema direita -

A ameaça de um terrorismo de extrema direita preocupa cada vez mais as autoridades alemãs, sobretudo, desde o assassinato de um deputado alemão favorável aos migrantes, que pertencia ao partido da chanceler Angela Merkel, em junho do ano passado.

Na sexta-feira, 12 integrantes de um pequeno grupo de extrema direita foram detidos no âmbito de uma investigação antiterrorista. As autoridades acreditam que eles planejavam ataques em grande escala contra mesquitas para imitar o autor do atentado de Christchurch, na Nova Zelândia, que em março de 2019 matou 51 pessoas em duas mesquitas e transmitiu os massacres ao vivo.

Em outubro, um extremista que nega o Holocausto tentou atacar uma sinagoga em Halle. Como não conseguiu entrar no edifício religioso em que os fiéis estavam entrincheirados, ele atirou em um pedestre e no cliente de um restaurante de kebab e transmitiu o atentado ao vivo on-line.

Em Dresden, na ex-Alemanha Oriental, oito neonazistas estão sendo julgados há quase cinco meses por terem planejado ataques contra estrangeiros e políticos.

A associação Ditib, a principal organização da comunidade turca muçulmana na Alemanha, pediu mais proteção para seus fiéis que "não sentem mais segurança".

Várias homenagens às vítimas serão organizadas nesta quinta-feira em Hanau e também em Berlim diante do Portão de Brandemburgo.

Atualmente, o serviço de Inteligência monitora 50 pessoas vinculadas ao movimento de extrema direita, consideradas um "perigo para a segurança do Estado".

Fonte: AFP

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