Mundo se aproxima do milhão de infectados por coronavírus

 Soldados desinfetam trem na Central do Brasil, em 26 de março, no Rio de Janeiro - CARL DE SOUZA

O planeta se aproxima do milhão de infectados pelo novo coronavírus, e da cifra de 50 mil mortos, enquanto os Estados Unidos registraram a vítima mais jovem até o momento, um bebê de seis semanas.

Enquanto os governos ampliam as ordens de confinamento que afetam metade do planeta, agências internacionais alertam que algumas partes do mundo podem enfrentar escassez de alimentos se as autoridades não enfrentarem a crise corretamente.

Mais de 900.000 casos foram registrados em todo o mundo e quase 46.000 pessoas morreram desde que o vírus surgiu na cidade chinesa de Wuhan, no final do ano passado, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

"Nos próximos dias, haverá um milhão de casos confirmados e 50.000 mortes", disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A preocupação está crescendo nos Estados Unidos, que já contabilizaram mais de 200.000 infecções e pelo menos 4.600 mortes, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

Entre os mortos americanos está um bebê de seis semanas que faleceu em Connecticut.

"É com tristeza que parte meu coração que podemos confirmar hoje a primeira fatalidade pediátrica em Connecticut ligada à Covid-19", disse o governador do estado, Ned Lamont, em sua conta no Twitter.

"Acreditamos que é uma das pessoas mais jovens do mundo" vítima do vírus, acrescentou.

A maioria dos portadores do novo coronavírus é idosa, e abundam histórias chocantes de idosos encontrados mortos e sozinhos na Espanha ou na Itália, países fortemente afetados pela pandemia.

Mas casos recentes mostram que a doença pode afetar os mais jovens. Entre as vítimas fatais está um garoto de 12 anos na Bélgica, um garoto de 13 anos na França e outro da mesma idade na Grã-Bretanha.

O estado americano de Illinois relatou no fim de semana a morte de um bebê de nove meses, aparentemente ligada ao coronavírus.

Quadras esportivas fechadas em NY

Nova York, a área mais populosa dos Estados Unidos, tornou-se o epicentro da pandemia no país.

Caminhões refrigerados já estão estacionados em frente a hospitais para lidar com a onda de mortes, 1.941 no estado.

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou o fechamento das quadras esportivas e de recreação da Big Apple e pediu à polícia que seja mais agressiva na aplicação das regras de distanciamento social.

"Ainda existem muitas situações de alta densidade entre os jovens", disse Cuomo.

"Use o espaço aberto em um parque. Ande por aí, pegue um sol (...) Sem densidade. Sem jogos de basquete. Sem contato próximo. Sem violar o distanciamento social, ponto final. Essa é a regra", lembrou.

A Alemanha estendeu a proibição de reunião de mais de duas pessoas em áreas externas até 19 de abril, e a chanceler Angela Merkel alertou que as famílias não poderão se visitar durante as celebrações da Páscoa.

"Uma pandemia não reconhece feriados", disse.

A pandemia também afeta eventos esportivos, como o torneio de tênis de Wimbledon, cancelado pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Aos poucos, a onda também cresce na América Latina, que registrou mais de 20.000 casos.

Mais sombras do que luzes

O quadro é, no momento, mais cheio de sombras do que de luzes. O número de infecções parece se estabilizar na Espanha e Itália, países europeus mais atingidos, mas o número diário de mortos ainda é elevado, superior a 800 em ambos os casos.

Mais preocupante é a curva que começa a aparecer em França e Reino Unido, com mais de 500 mortos nas últimas 24 horas.

As diferentes agências da ONU pediram nesta quarta-feira, em comunicado comum, mais solidariedade aos vizinhos mais vulneráveis, para evitar uma tragédia alimentar.

Os países ricos, no entanto, estão pressionados não apenas pelo vendaval sanitário, mas também pela paralisação de suas economias. "Nosso país enfrenta um desafio sem precedentes em sua história", declarou, em tom grave, o presidente Donald Trump.

Dobro de mortos

A escassez derivada da pandemia provocou protestos em alguns países mais pobres. "Na Nigéria, quando você trabalha, já passa fome. Imagine quando não pode trabalhar", resumiu Samuel Agber, que trabalha com reparos de aparelhos de ar-condicionado

Para conter a propagação da pandemia, quase metade da população mundial foi convocada a permanecer em casa, o que nem sempre é fácil de cumprir. Na Índia, a polícia mostrava nas redes sociais faces bem diferentes. De um lado, aparecia dançando nas ruas com capacetes representando o vírus. De outro, agentes eram vistos agredindo quem violasse o confinamento.

O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, pediu hoje desculpas pelos "excessos" policiais durante a aplicação do toque de recolher noturno. Já Serra Leoa, um dos países mais pobres do planeta, decretou três dias de confinamento, com a frágil esperança de conter o primeiro surto da epidemia.

Massacre silencioso

Na Itália, médicos estão preocupados com os pacientes que deixam o hospital quando sua vida não corre mais risco, mas que continuam sendo contagiosos. Alguns deles são levados para centros de recuperação, e, apesar das medidas de proteção, especialistas temem um "massacre silencioso" nesses locais.

Enquanto na Itália e Espanha o pico de infecções deve ser alcançado, depois de semanas de confinamento, o mesmo não se vislumbra na América do Norte. O governo americano divulgou uma previsão sombria de entre 100 mil e 240 mil mortes naquele país nos próximos meses se as restrições não forem respeitadas.

Na América Latina, que já registrou mais de 500 mortes, vários países anunciaram a prorrogação das medidas, em uma tentativa de evitar o colapso de seus sistemas de saúde.

O governo argentino estabeleceu cotas para a repatriação gradual de cidadãos que tentam retornar àquele país após o fechamento das fronteiras.

Novos prejuízos nas bolsas

O fechamento temporário de empresas e a paralisação da atividade econômica, que levaram a medidas semelhantes em todo o mundo, deixaram muitos trabalhadores sem renda, e as consequências começam a ser sentidas nos países mais atingidos. A indústria automobilística, por exemplo, registrou uma queda histórica de mais de 70% no mercado francês.

A ansiedade pelo avanço da pandemia voltou com força hoje aos mercados, com forte prejuízos nas bolsas. Os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais do G20, que se reuniram ontem, prometeram ajudar os países mais pobres as suportar o fardo de suas dívidas e ajudar os mercados emergentes.

Na frente esportiva, os organizadores anunciaram a suspensão do Torneio de Wimbledon, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Casos assintomáticos na China

Em Wuhan, cidade em que a pandemia teve origem, as medidas de confinamento começavam a ser retiradas progressivamente, e os primeiros passos ao ar livre de seus habitantes são para homenagear os mortos.

Paralelamente, a China anunciou nesta quarta-feira 1.367 casos assintomáticos do novo coronavírus, que se somam aos 81.554 contágios registrados, ao divulgar pela primeira vez o número de pessoas atualmente infectadas, mas que não manifestam a febre e tosse características da Covid-19.

FONTE: AFP

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