O ministro da Economia, Paulo Guedes, atribuiu nesta terça-feira (15) a decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de acabar com o Renda Brasil a uma posição política que considerou correta após distorção de informação feita pela mídia.
Segundo Guedes, a mudança em debate era importante e poderia ser histórica, envolvendo a desvinculação, desindexação e desobrigação do Orçamento.
Agora, ele reconheceu que a versão para o Pacto Federativo que está sendo relatada pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC) não deverá conter mais o Renda Brasil. O ministro destacou que Bolsonaro sempre disse que não iria transferir renda de pobres para paupérrimos e que essa é uma opção política do presidente.
"(Ele) descredenciou então essa ideia do Renda Brasil, falando 'olha, não vai ter isso daqui até o fim do meu governo'. Acabou porque estão distorcendo tudo, estão acusando presidente de demagogia, de estar querendo tirar dinheiro do pobre para dar para o mais pobre ainda, quando na verdade essa consolidação de programas já aconteceu no passado", disse Guedes, em participação online no Painel Telebrasil 2020.
"Nunca foi intenção tirar dinheiro dos idosos e dos vulneráveis", acrescentou, em outro momento.
Guedes disse ter havido "barulheira toda" esta manhã após manchetes de jornais terem feito "conexões de pontos que não estão necessariamente conectados".
As matérias foram publicadas após o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, ter sinalizado ao portal G1 que, entre as medidas em estudo, estava a desindexação das aposentadorias do salário mínimo.
Bolsonaro então disse em vídeo publicado em suas redes sociais que até 2022 está proibido em seu governo falar em Renda Brasil.
"Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final", afirmou o presidente.
"Quem porventura vier propor para mim medidas como essas eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa. É gente que não tem o mínimo de coração, não tem o mínimo de entendimento de como vivem os aposentados no Brasil", completou.
Guedes disse ter conversado com o presidente pela manhã e relatou ter lamentado muito "essa interpretação" em que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo foi associada à diminuição de benefícios para os mais necessitados.
"(Bolsonaro) levantou um cartão vermelho. Cartão vermelho não foi para mim, esclarecendo a todo mundo", afirmou o ministro.
Antes de Guedes, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, havia defendido que o presidente segue sim alinhado à agenda da equipe econômica, e que ele apenas não quer que ideias em estudo sejam tornadas públicas.
Waldery não participou nesta manhã de coletiva de imprensa sobre as expectativa do governo para a economia, embora sua presença fosse esperada no evento.
Proposta em estudos
O time de Guedes analisou inicialmente uma focalização de programas sociais e, posteriormente, eventual mudança em regras de benefícios para aumentar os recursos ao Bolsa Família, rebatizando-o para que, mais robusto, virasse uma marca da gestão Bolsonaro.
Segundo a Reuters apurou, a equipe econômica preparava para esta semana um detalhamento de todas as desindexações que estavam na mesa e qual espaço orçamentário poderiam criar caso houve apoio político para tanto. O congelamento dos benefícios previdenciários era um desses pontos e a ideia era que o estudo fosse enviado para análise do senador Bittar para subsidiar a estruturação do Renda Brasil.
Nesta terça-feira, o próprio Guedes admitiu que o time chegou a estudar, no âmbito de uma consolidação das políticas públicas, a canalização dos recursos do seguro-defeso e abono salarial, além do fim das deduções da classe média e alta.
Ele defendeu que a ideia de desvinculação e desindexação no Pacto Federativo era muito mais ampla e que não tinha como objetivo tirar dos mais pobres, mas sim atribuir à classe política suas responsabilidades sobre o Orçamento.
"Não é possível você abrir um jornal e todas as manchetes estarem assim: querem tirar dos pobres, querem assaltar os pobres para dar para os mais pobres ainda. Não é isso", afirmou Guedes.
"Então a reação do presidente é uma reação política, correta. Se a mídia toda está dizendo que eu quero tirar dinheiro dos pobres e dar para os mais pobres eu vou dar minha resposta em alto e bom som", prosseguiu.
FONTE: Reuters
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