Uma das principais opções da equipe de Mano Menezes e convocado para a
seleção brasileira sub-21, Malcom nem sempre foi o preferido durante a
sua trajetória no Corinthians. Ao completar 16 anos, o clube paulista
demorou para acertar o seu primeiro contrato profissional. Com propostas
do São Paulo e do Internacional, ele quase deixou o alvinegro.
Segundo
a mãe, Flávia de Oliveira, foi a vontade de seu filho em permanecer no
Parque São Jorge e a insistência do empresário que impediram a mudança.
Antes
de ser chamado pelo técnico Osmar Loss para disputar a Copa São Paulo
de Futebol Júnior 2014, a pequena promessa, amargou o banco de reservas
por quase um ano, no Juvenil, quando era um ano mais novo que os demais
companheiros, entrando apenas nos últimos minutos das partidas, de
acordo com ela.
Ele, aliás, foi o último convocado para o torneio,
vestindo o número 30 do grupo vice-campeão, que perdeu para o Santos na
final, no Pacaembu, sendo uma surpresa para toda a diretoria e também a
família.
Fernando Garcia, empresário de Malcom e conselheiro do
clube, foi pessoalmente ao Parque São Jorge exigir o primeiro documento
profissional da revelação. A cúpula da base do Corinthians, no entanto,
diz que não foi bem assim. Segundo Fernando Alba, responsável pelas
categorias não profissionais, a direção sempre teve muito interesse no
atleta, que já tinha contrato de formação, e que não perderia o
atacante.
"O Corinthians não queria meu filho. O Corinthians não
dava valor, achava que não ia virar. Não chegou a dispensar meu filho,
mas não queria. Ele ficou no banco o ano inteiro. Ele entrou como
titular só nos últimos jogos. Ele no banco tinha mais gols que o
atacante titular. Mas o técnico não colocava. O clube não me procurou na
hora de fazer o contrato, não estava interessado. A gente tinha
proposta do Internacional e do São Paulo. Eu queria que ele fosse,
porque a promessa nos outros clubes era pra que ele fosse titular lá. E
no Corinthians, ele nem jogava", afirmou a mãe, em contato com a
reportagem.
"Se o Fernando não tivesse insistido, não teria saído o
contrato profissional. Poderia ter saído em outro momento, mas na
época, não. E aí eu já não sei onde meu filho poderia estar. Eu não
posso reclamar do tratamento que meu filho ganhou. Mas ele não jogava.
Ele vivia uma fase muito boa. Ele entrava e resolvia. É papo de mãe, mas
eu entendo muito de futebol. Ele vivia fase boa e não era aproveitado. O
Malcom ficou porque tinha muita vontade de ficar e porque o empresário
conseguiu convencer a diretoria", completou.
De acordo com a Lei
Pelé, o clube formador, com contrato assinado e prova do investimento
feito, tem o direito de assinar o contrato profissional a partir dos 16
anos até os 20. Se o atleta não quiser, no entanto, ou houver proposta
para sair, o time interessado deve indenizar a casa original em um valor
que pode chegar a 200 vezes do que foi gasto no período de formação.
"Claro
que havia interesse. O Corinthians é o clube formador. Não tinha motivo
para ter pressa. O contrato profissional do Malcom saiu da mesma forma
que todos os outros garotos da base, não houve nada diferente. Não
demoramos mais, nem menos. Foi tudo no tempo certo", disse Fernando
Alba, ao ESPN.com.br.
Segundo o empresário
Fernando Garcia, o Corinthians prometia que faria o contrato
profissional, mas nunca chamava as partes para assinar a documentação.
"Eles
prometiam que iam fazer o contrato, mas não chamavam nunca para
assinar. As propostas chegavam de outros clubes, e o Corinthians não se
mexia. Eu queria que ele jogasse lá. O menino era bom, não tinha por que
sair. O que eles queriam era que eu desistisse e depois colocariam a
culpa no empresário. Diriam que foi o Fernando Garcia que roubou o
Malcom para outro clube", disse, em contato com a reportagem.
"No
dia 2 de maio, eu fui ao Parque São Jorge, levei a mãe dele e ficamos o
dia todo lá plantados, esperando alguém do Corinthians nos receber. A
mãe dele queria ir embora, pedia para a gente assinar logo com o São
Paulo ou com o Internacional. Ela precisava ir embora, como demoramos
para ser atendidos, a Flávia perdeu o dia de trabalho. E eu não tirei o
pé de lá e fiz ela ficar comigo também. Horas depois, o diretor apareceu
e assinamos. Jogador bom, você assina no dia seguinte do aniversário de
16 anos. Eles deixaram Malcom de lado", completou.
Pelo primeiro
contrato, do dia 2 de maio do ano passado, que tinha o salário mensal de
R$ 3 mil, Malcom tinha os direitos econômicos fatiados da seguinte
forma: 70% do Corinthians, 10% da GT Sports Assessoria, 10% da empresa
de Fernando Garcia e mais 10% da Art Sports. Depois no entanto, como
mostrou a matéria do ESPN.com.br,o Corinthians teve de
vender partes dos direitos do garoto para pagar a compra de Ralf, quando
chegou uma proposta da Fiorentina.
Confusão
Antes
de o contrato ser assinado, no entanto, um episódio marcou o período de
negociações com o Corinthians. Dois empresários foram à casa da família
de Malcom e se apresentaram como diretores do clube paulista. Segundo a
mãe do garoto, eles se identificaram e falaram que Fernando Garcia
estava mentindo.
"Vieram aqui e falaram que eram diretores do
Corinthians. Eu deixei entrar, para conversar. O primeiro falou para mim
que era diretor, mas depois falou a verdade e disse que era empresário.
Ele veio dizer que o Corinthians estava oferecendo um valor para fazer o
contrato e dizendo que o meu empresário estava mentindo para mim. Eu
disse, então, que ele tinha 24 horas para me mostrar que o meu
empresário estava mentindo e que se ele provasse, eu fecharia com ele na
mesma hora. Ele pediu para eu não falar para ninguém", explicou Flávia.
"Depois,
uma dez horas da noite, ele retornou na minha casa e disse que não era
hora de brigar com o empresário do meu filho. E foi embora, mas antes
pediu para eu não falar para ninguém. Aí eu fui brigar com o meu
empresário. Liguei para ele e disse da minha desconfiança. Eu não
precisei nem terminar, e o Fernando já sabia quem eram os caras. Passou
um tempo, o Robson me ligou brigando comigo. Depois de dois dias o
contrato saiu. Ficou chato, né? Não sei o que aconteceu, não posso
afirmar nada, mas foi uma coisa estranha", completou.