Dois meses depois de ser apreendido pela polícia, Y. ainda não foi matriculado na escola e ainda vive perambulando pelas ruas Foto: Nina Lima/Extra |
No dia 6 de março, quando chegou à 17ª DP (São Cristóvão), após ser apreendido acusado de ter roubado um colar de ouro em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, Y., de 12 anos — mas muito franzino —, mentiu a idade.
— Eu disse que tinha 6. Não queria ir para o abrigo de jeito nenhum — diz o menino.
A história de Y. rodou o mundo depois que o policial responsável pela apreensão divulgou a foto do menino e de um amigo da mesma idade, mas bem maior, de costas, dentro da delegacia. Dois meses depois, ele contou ao EXTRA que vive nas ruas, ainda pratica pequenos furtos nos bairros de São Cristóvão e Benfica e continua sem matrícula em qualquer escola — mesma situação de X., de 16 anos, apreendido na semana passada, acusado de matar o médico Jaime Gold na Lagoa.
Y. não tem
boas lembranças do tempo em que frequentava a Escola municipal Floriano
Peixoto, próxima à favela onde mora, o Morro do Tuiuti. No ano passado,
abandonou as aulas uma semana depois de matriculado: discutiu com um
colega e, repreendido, xingou a professora. Saiu correndo da escola e
não voltou. Mas ainda sonha com o dia em que vai aprender a ler e a
escrever.
Os dois meninos detidos na delegacia Foto: Reprodução |
No dia em que foi detido — e, segundo ele, agredido pelos PMs —, foi liberado após sua mãe ir buscá-lo na delegacia. Dependente química, a mulher, de 26 anos, tem outros dois filhos e acabou de voltar à favela depois da quarta internação em clínicas de reabilitação. O pai de Y. morreu, vítima de tuberculose, há dez anos. Encontrar o menino na casa onde moram seus irmãos, sua mãe e seu avô, um pedreiro de 55 anos, é improvável: às vezes dorme numa quadra de futebol no alto do morro ou nas ruas, outras — como ontem — só chega em casa às 6h, depois de voltar “chapado” do baile funk da favela.
Os parentes de Y. reconhecem que ele precisa de ajuda do estado. Atualmente há uma ação, na Vara da Infância e da Juventude, para afastar o menino da família.
— Sabe como é: casa que não tem fundação boa cai. Ele precisa de ajuda. O Conselho Tutelar já veio três vezes aqui, mas ele foge. Ele precisa ser abrigado — conta o avô.
Seu comparsa no furto, contudo, teve destino diferente: após o episódio, tomou uma bronca dos pais e voltou para a escola. Hoje, cursa o 7º ano na Escola municipal Nilo Peçanha.
— Imagina o que significa, para uma mãe, ver o filho na capa do jornal como bandido? Tomamos um susto aqui em casa. Ele é um menino bom, mas precisava entrar na linha. Eu e o pai dele mostramos que tudo que conseguimos foi com o suor do nosso trabalho, não precisamos roubar ninguém. Agora, está na escola novamente. Espero que um dia ele vire bombeiro para ajudar e salvar outras pessoas — conta a mãe do menino.
Você ainda tem esperança quanto ao futuro do Y.?
Ele é uma ótima pessoa, apenas precisa de oportunidade para se educar. Mas na comunidade, é difícil criar uma criança. Com certeza, se ele tiver uma oportunidade, pode se tornar um grande homem, um empresário, um jogador de futebol.O Conselho Tutelar já foi à casa de vocês?
Procurei a ajuda do Conselho Tutelar três vezes. Já fui até a juíza explicar porque ele não ia à escola. Passei pra ela as dificuldades que eu enfrento. Já internei a mãe quatro vezes. Você pode imaginar que se eu internei ela todas essas vezes, tem dificuldade para educar o garoto. Ela precisa de reabilitação.Você gostaria que ele fosse abrigado?
As autoridades que são responsáveis pelas crianças tinham que ter um pouco mais humanidade. Quero que ele seja abrigado. Nenhum avô gosta de ver uma criança chegar em casa na hora que quer. No mundo cruel em que a gente vive, uma criança que vive na rua corre um grande risco.Fonte: EXTRA
0 Comentários
Deixe seu comentário...